O ensino de Didática nos cursos de licenciaturas
de universidades públicas de modo remoto:
a visão dos estudantes
Pesquisa desenvolvida por componentes da diretoria e membros
da Associação Nacional de Didática e Prática de Ensino (ANDIPE).
Pesquisadores coordenadores da pesquisa:
Nadiane Feldkercher - Universidade Estadual de Maringá
Lui Nörnberg - Universidade Federal de Pelotas
Equipe de pesquisadores envolvidos com a pesquisa:
Adda Daniela Lima Figueiredo Echalar - Universidade Federal de Goiás
Alda Junqueira Marin - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e Universidade de Araraquara
Aline Daiane Nunes Mascarenhas - Universidade do Estado da Bahia
Amali de Angelis Mussi - Universidade Estadual de Feira de Santana
Cristina D`Ávila - Universidade Federal da Bahia
Evandro Ghedin - Universidade Federal do Amazonas
Grace Gotelip Cabral - Universidade Federal do Acre
José Carlos Libâneo - Pontifícia Universidade Católica de Goiás
José Leonardo Rolim de Lima Severo - Universidade Federal da Paraíba
Kátia Morosov Alonso - Universidade Federal de Mato Grosso
Lenilda Rêgo Albuquerque de Faria - Universidade Federal do Acre
Maria Ines Galvão Flores Marcondes de Souza - Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro
Marilza Vanessa Rosa Suanno - Universidade Federal de Goiás
Renato Barros de Almeida - Pontifícia Universidade Católica de Goiás
Rogéria Gadelha dos Santos da Silva - Universidade Federal do Acre
Rosana Aparecida Ferreira Pontes - Universidade Católica de Santos
Selma Garrido Pimenta - Universidade de São Paulo e Universidade Católica de Santos
Suzana dos Santos Gomes - Universidade Federal de Minas Gerais
Vania Finholdt Angelo Leite - Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Objetivo geral
Analisar, na perspectiva dos estudantes dos cursos de licenciatura de universidades brasileiras públicas, o ensino de Didática de modo remoto emergencial em tempos de pandemia, identificando os desafios e as potencialidades vividos face ao uso das tecnologias digitais.
Objetivos específicos
Descrever as condições objetivas e subjetivas dos estudantes de Didática para sua participação nas atividades pedagógicas em tempos de pandemia.
Caracterizar o ensino de Didática no modo remoto, no contexto da pandemia, nos cursos de licenciatura de universidades brasileiras públicas, considerando os desafios, as potencialidades e os recursos utilizados na e para a mediação dos processos de ensino e de aprendizagem.
Metodologia
Parecer de aprovação do projeto de pesquisa pelo Comitê Permanente de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Estadual de Maringá número 4.740.753
Pesquisa desenvolvida entre abril de 2021 à março de 2022.
Pesquisa exploratória, envolvendo coleta de dados quantitativos e qualitativos.
Instrumento de coleta de dados: questionário online com questões fechadas e abertas.
Participantes da pesquisa: estudantes de cursos de licenciatura de universidades brasileiras públicas que cursaram o componente curricular de Didática durante o ensino remoto emergencial.
APRESENTAMOS EM GRÁFICOS OS DADOS QUANTITATIVOS
FAIXA ETÁRIA
GÊNERO
IDENTIDADE RACIAL
POSSUI GRADUAÇÃO
CARACTERIZAÇÃO DO DOMICÍLIO
QUANTAS PESSOAS RESIDEM NO DOMICILIO
SITUAÇÃO FINANCEIRA
VÍNCULO EMPREGATÍCIO
TURNO DO CURSO
INSTITUIÇÕES ENVOLVIDAS NA PESQUISA
REGIÕES ABRANGIDAS
LICENCIATURAS ENVOLVIDAS
POSSUI OUTRA FORMAÇÃO EM NÍVEL SUPERIOR
NÍVEL DE CONHECIMENTO NO USO DE TECNOLOGIAS
EQUIPAMENTOS UTILIZADOS
FREQUÊNCIA DE UTILIZAÇÃO DA INTERNET
TIPO DE ACESSO A INTERNET
AVALIAÇÃO DOCENTE EM ESCALA DE 1 A 5
COMO FAZ OS TRABALHOS ACADÊMICOS
QUANTO A ACESSIBILIDADE/
DISPONIBILIDADE DO PROFESSOR
NÍVEL DE SATISFAÇÃO EM RELAÇÃO A
INTERAÇÃO COM O PROFESSOR
NíVEL DE SATISFAÇÃO QUANTO AO FEEDBACKS DO PROFESSOR EM RELAÇÃO AS ATIVIDADES
FREQUÊNCIA DE ACESSO AO AMBIENTE VIRTUAL
NíVEL DE SATISFAÇÃO QUANTO AOS FEEDBACKS
DO PROFESSOR EM RELAÇÃO AS DÚVIDAS E ESCLARECIMENTOS
NíVEL DE INTERAÇÃO COM OS COLEGAS A PARTIR
DAS ATIVIDADES PROPOSTAS PELO PROFESSOR
TEMPO DEDICADO AOS ESTUDOS
CONSIDERAÇÕES POR EIXOS ANALÍTICOS
Condições de acesso e uso de tecnologias
A pandemia e o ensino remoto emergencial deixaram mais evidente as desigualdades e trouxeram um clima de incerteza e desconforto aos estudantes. Por um lado, tem-se aqueles com melhores condições tecnológicas e emocionais, por outro lado, há aqueles com uma maior fragilidade dessas condições, que lutam para se manter cursando a graduação. E ainda, por outro lado, o ensino remoto para alguns oportunizou outras reflexões e relações sobre educação, ensino e tecnologia. Essas condições influenciam os processos de ensino e de aprendizagem e, portanto, devem ser levados em consideração pelos professores universitários preocupados com o fazer didático e com a aprendizagem discente.
As tecnologias e o ensino de Didática
No início do ERE professores e alunos apresentavam pouco conhecimentos e habilidades para o uso das TEDs e, mesmo assim, foram desafiados a incorporá-las de modo repentino em suas práticas de ensinar e de aprender. Os professores de Didática fizeram uso de variadas tecnologias digitais para o desenvolvimento de suas aulas, valorizando interações síncronas e assíncronas, porém parece que o modelo das aulas presenciais foi transposto para o ensino remoto. O uso das TEDs impõem uma reestruturação, para além dos objetivos e metodologias de ensino, que envolve mudanças organizacionais, gerenciais e avaliativas da educação (KENSKI, 2003).
A maioria dos estudantes reconheceu a importância e o potencial da incorporação das TEDs tanto em suas formações quanto em suas futuras práticas docentes, assim como parte dos estudantes manifestaram preocupações e expuseram críticas ao ensino remoto (SAVIANI; GALVÃO, 2021) dada as desigualdades no acesso e na utilização de recursos, bem como aos interesses oportunistas do mercado com suas estratégias privatistas e de conversão da educação em mercadoria.
A pesquisa demonstrou que o uso das TEDs no ensino da Didática bem como a formação dos licenciandos para o uso das TEDs em suas futuras práticas docentes carecem de qualificação e aprofundamento nas pesquisas no sentido de articular concepções, condições e modos de realização do ensino e da aprendizagem, visando o desenvolvimento das capacidades mentais e afetivas dos estudantes (LIBÂNEO; FREITAS, 2007).
Processos de interação e mediação do ensino remoto emergencial de Didática
Por um lado, os estudantes reconheceram o esforço e a dedicação dos docentes de Didática ao realizarem o melhor trabalho possível dentro do contexto de ERE, destacando a ampliação dos estudos e reflexões e valorizando a oportunidade de conhecer o ambiente virtual. Por outro, destacaram que o semestre foi difícil, ressentiram-se quanto a impossibilidade do ensino presencial e da convivência com a turma, apontaram os limites do ensino remoto e a preocupação com o avanço das investidas no sentido da educação como mercadoria. Nesta pesquisa, assim como em Contreras (1990), o ensino de didática foi apontado como espaço para produzir e analisar processos de ensino-aprendizagem e práxis.
Na percepção dos estudantes participantes da pesquisa os processos organizados e mediados pelos docentes contribuíram para impulsionar a aprendizagem dos mesmos, ou seja, internalizaram significados sociais, conhecimentos, habilidades e valores. Consideraram que ocorreu mediação didática, visto que estabeleceram relações com saberes em situação contextualizada, compreenderam determinantes históricos de questões estudadas e tiveram seus interesses formativos contemplados nesse componente curricular.
Os docentes foram considerados qualificados, acessíveis e disponíveis para interação, compreendemos que tais quesitos contribuem no sentido de favorecer no processo de ensino e das mediações das relações dos estudantes com os objetos de conhecimento. No entanto, na percepção dos estudantes, os processos de ensino em ambientes virtuais demandam aprimoramentos.
Relevância, conteúdos e especificidades do ensino de Didática no ERE
Os estudantes destacaram que os conteúdos estudados no componente curricular Didática de modo remoto emergencial foram pertinentes e considerados como necessários na formação de professores, contudo percebemos, na visão expressa pelos estudantes, uma perspectiva limitada e instrumental do que seja a Didática enquanto disciplina pedagógica e de quais deveriam ser seus conteúdos. Assim como apresentaram pouca compreensão das bases teóricas da Didática e desta enquanto ciência da educação e campo de investigativo, de tal modo restringiram os conteúdos da disciplina a aspectos do planejamento e da organização do ensino sem situá-lo e contextualizá-lo, sem apontar para suas bases teóricas e relações entre teoria e prática.
A Didática, enquanto teoria e prática do ensino, parece ter cumprido sua tarefa, mesmo em contexto de ensino remoto emergencial, viabilizando estudos, mediações e atividades com vistas à efetivação da produção de conhecimento por parte dos estudantes.